Nas contendas travadas ao longo dos anos de trabalho espiritual em prol do planeta como organismo vivo, coletivamente construído, e de cada indivíduo que busca auxílio espiritual passamos por vários degraus. No início da vida temos de lidar, ainda muito cedo, com o fato de que não somos como o amiguinho da escola, nós captamos esferas extremamente sutis da realidade e quando se é uma criança é difícil de explicar e, sobretudo de se entender, na adolescência a combinação de hormônio com capacidades incomuns de percepção e compreensão da realidade fazem-nos um refém de nós mesmos, uma bomba-relógio prestes a explodir, cheia de potência e perdida no espaço, na vida adulta um pouco mais crescidos e esclarecidos, nos deparamos com mais uma série, para não dizer uma infinita lista, de situações difíceis de lidar. Ser um trabalhador espiritual não é fácil e requer, antes de mais nada, uma boa dose de paciência.

Atualmente, em meio a quantidade não irrelevante de desafios da vida de um trabalhador espiritual, seja qual for sua definição – lightworker, starseed, walk-in, curandeiro, xamã, médium umbandista, cartomante, numerólogo, conselheiro, mago, sacerdote – está a de explicar a todos o porquê cobramos pelo nosso trabalho. É claro que nem todos cobram e em algumas religiões o não cobrar é uma regra.

A qualquer serviço prestado é atribuído um valor equivalente, até aí, me parece justo e ninguém reclama, a não ser, salvo exceções, em casos abusivos (o valor cobrado não é compatível com o serviço prestado). Muito bem. Fui ao borracheiro com um pneu furado, ele resolveu o problema ,paguei quinze reais por isso. Nós trocamos. Fui ao cabeleireiro cortar o cabelo, paguei quarenta reais por isso. Nós trocamos. Fui a uma danceteria, paguei sessenta reais para entrar. Troquei com o dono do estabelecimento, portanto, nós trocamos. Fui a uma numeróloga que me ajudou a entender minha missão na Terra, paguei trezentos e cinquenta reais. Esse foi o preço da consulta, mas qual é o preço de saber a minha missão aqui e caminhar para isso? Com certeza trezentos e cinquenta reais é muito pouco. Fui a uma xamã que cuidou de mim durante 9 meses dentro de um círculo para mulheres. Cento e cinquenta reais por mês, esse foi o preço, mas qual foi o valor de poder caminhar sem tantas máculas em meu ser-feminino? Cento e cinquenta reais para eu ter recebido o que recebi é caridade por parte dela.

Por que é que trocar com o borracheiro, com o cabeleireiro e com dono da danceteria não é um problema e pagar um preço por trabalhos espirituais de valor inestimável tem que ser um problema? Parece que é quase uma regra. Se o terapeuta, xamã, curandeiro, mago, cobra pelo que faz é charlatão, porque os verdadeiros terapeutas, xamãs, curandeiros e magos não cobrariam. Tenho escutado de pessoas aparentemente esclarecidas que o sagrado não se cobra. Reproduzir essa ideia desmerece e desvaloriza o trabalho das pessoas que se dedicaram uma vida inteira para estar a frente de trabalhos espirituais, que estudaram e se prepararam, investindo dinheiro em cursos, livros e viagens, que venceram o preconceito da sociedade e da família, que passaram pelas maiores provações para servir como exemplo e estão em pé e por amor a humanidade assumiram a incumbência heroica de ser um canal das forças espirituais.

Se você não acredita em nada disso, ou é duvidoso do além-mundo esse texto não é para você, com todo respeito, não se meta. Esse texto destina-se àqueles frequentadores assíduos de trabalhos espirituais que estão esgotando o sentido da palavra gratidão, mas ainda não entenderam seu real significado. Dinheiro também é gratidão, porque gratidão significa que a energia recebida está sendo retribuída, e se essa retribuição é em forma de moeda, ótimo.

Nós – curandeiros, sacerdotes, xamãs, conselheiros, cartomantes, numerólogos – também temos família, contas a pagar, imposto de renda para declarar como todos vocês. Fazer cura, servir de canal espiritual, trazer à luz os entraves de uma vida através de oráculos não é circo e não é hobby, portanto dá próxima vez que for questionar a energia de troca de um trabalho santo ou reproduzir a verdade medieval de que o sagrado não se vende e o bom líder espiritual tem que fazer voto de pobreza, pense em todos os benefícios que já recebeu não pelas mãos desses trabalhadores, mas através de seus veículos corporais e tente converter para reais (R$) e veja se foi ou não justo o que pagou em troca do que recebeu.

P.S.: o mesmo texto vale para os artistas (músicos, malabaristas, desenhistas, artesãos) que não tem tido seu trabalho de valor inestimável reconhecido.

Texto escrito pela Veridiana Mataji