A afirmação do ego ou a leveza da alma? Independentemente de nossa vontade, o conflito se estabelece entre o ego e a alma. Essa crise silenciosa revela que o ser inteligente busca, inconscientemente, algo que faça sentido à sua existência física.

Nesse sentido, por mais primitivo que seja o ego, a alma pressiona-o para que ele ceda espaço à sua manifestação. E nessa forma de disputa, ocorrem as crises, à medida que o ego tenta impor a sua necessidade de afirmação e domínio…

No mundo moderno, a busca pela afirmação pessoal e profissional em um cenário competitivo, faz com que o homem urbano seja agressivo em relação aos seus objetivos, onde valores ético-morais, muitas vezes, não são considerados no contexto social.

Quando abdicamos de valores essenciais ao nosso crescimento, em detrimento de valores que estimulam a competitividade e a violência implícita, abrimos uma porta para que o desequilíbrio psíquico-espiritual se estabeleça em nossas vidas.

Na situação inversa, quando em benefício de valores que transcendem a realidade física, negligenciamos valores necessários ao crescimento pessoal e profissional, também perdemos o foco do equilíbrio vital, pois somos seres reencarnados com responsabilidades ligadas ao eu e ao ao outro quando nos reencontramos para nova oportunidade no aprendizado do amor.

Portanto, a disputa interna entre o ego que busca reconhecimento social, afirmação e apego, e a alma, que deseja leveza e desapego material, é uma realidade que ocorre no âmbito de nossa natureza interdimensional.

O desequilíbrio destas potencialidades que são inerentes ao ser humano, leva o indivíduo a sair do foco de seu objetivo vital, que é encontrar o difícil equilíbrio entre o apego do ego e o desapego da alma.

No entanto, essa indecisão, geradora de angústia existencial, torna-se um mecanismo psiquicamente saudável quando percebemos que o momento vital exige uma gradual mudança de atitudes diante da vida, o que pode vir em forma de questionamento a si mesmo, como por exemplo: “Afinal, o que desejo para mim e para o outro nessa jornada de encontros, reencontros e desencontros?

Quando abrimos a mente -e o coração- a novos aprendizados, liberamos a energia do amor que encontrava-se bloqueada devido ao conflito entre o ego e a alma. Nessa relação, ao apurarmos a percepção da necessidade de transformar a si mesmo, surge o estímulo que emana da Luz como instrumento de reforma interior.

O processo de transformação íntima nos leva ao discernimento, que nos leva à lucidez e ao autoconhecimento. Base para entendermos as mazelas do ego em conflito com a alma e superarmos a fase de angústia existencial com um melhor nível de compreensão de si mesmo, do outro e do mundo que nos rodeia.

Sábio é o indivíduo que aprendeu com as crises existenciais, a ser menos arrogante, intolerante e agressivo na relação com a vida. Sábio é o sujeito que trilha o caminho do meio que leva-o ao equilíbrio de forças entre o crescimento pessoal e o crescimento espiritual.

Afirmar o ego não significa passar por cima de tudo e de todos como se fossemos o centro do universo. Assim como desenvolver valores que elevam o espírito, não significa abrirmos mão da busca por melhores condições de conforto material para si e para a família.

Na vitrine universal, somos a síntese de nossas próprias obras edificadas nas muitas vidas do espírito imortal. Obras que na sua maioria carecem de recomeço, continuidade ou acabamento, pois, geralmente, não concluímos o que começamos, ou não iniciamos o que planejamos para a jornada vital.

Ciclicamente, a oportunidade ressurge no sentido de iniciarmos nova obra ou darmos andamento ao que ficou do passado. Esse exercício de sintonia interdimensional que contempla valores materiais e valores espirituais em simbiose com o significado da vida, é o que necessitamos para garantir em harmonia vital, a afirmação do ego e a leveza da alma.

Por Flávio Bastos