“Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual,
somos seres espirituais vivendo uma experiência humana”
Teilhard de Chardin

“Em nossa realidade original somos um Ser espiritual, divino, perfeito e pleno em amor, pois o amor é a matéria prima da criação de tudo o que existe e o fim único de toda a criação. Neste estado de consciência possuímos o sentido de Unidade e de Totalidade, pois somos parte de Deus, da Fonte, do criador de tudo que existe.

O planeta Terra é formado em sua totalidade por dimensões envolvidas pela realidade polarizada e limitada, pois o universo fenomênico só pode ser criado e mantido através da dualidade, da tensão entre os opostos: masculino e feminino, bem e mal, quente e frio, claro e escuro, dor e prazer, alegria e tristeza, pobreza e riqueza, bonito e feio, certo e errado, etc.

Em algum momento cósmico, uma parte deste Ser Divino decide separar-se do Todo e se individualizar através de um corpo físico humano no Planeta Terra. Chamarei de Alma a parte deste Ser Divino que se individualiza e mergulha na realidade limitada da dualidade com o desafio de conhecê-la, experimentá-la, compreendê-la e aprender a expandir-se e expressar através dela suas potencialidades divinas até que possa transcende-la e recuperar a sua consciência de perfeição divina, de unidade e de totalidade.

A dor do nascimento cósmico

Porém, no processo de individuação, ao se afastar de sua verdadeira realidade divina e ilimitada, a Alma perde a conexão com o Amor, assim como o sentimento de Unidade e de Totalidade e deixa-se iludir pela realidade limitada pela dualidade. Este afastamento causa a ela uma profunda dor, também chamada de dor do nascimento cósmico. Como consequência, experimenta um grande sentimento de vazio, de solidão, de carência e de infelicidade que a marcam profundamente.

A Alma desenvolve uma longa jornada através de muitas encarnações em corpos físicos e circunstâncias diferentes no planeta Terra, nas quais busca transcender os limites que a ilusão da dualidade estabelece.

Ela necessita vivenciar diferentes experiências que a possibilitem compreender todos os pontos de vista possíveis que a ilusão da dualidade oferece. Para isso, ela escolhe expressar-se num corpo humano através de maneiras bastante distintas e limitadas. Algumas vezes utiliza um corpo de homem, outras um corpo de mulher, experimentando os diferentes papéis e expressões sexuais, assim como as diferentes etnias. Necessita experimentar situações, nas quais possa vivenciar o poder e a ausência dele, o ser aceito e o ser rejeitado, o ter e o não ter, enfim, todas as possibilidades de relacionamentos consigo mesma e com as outras Almas individualizadas.

Através das experiências que passa em cada uma das encarnações, experimenta os desafios de vivenciar sofrimentos e dores relacionados a situações de perdas, frustrações, rejeição, abandono, humilhação, engano, privação, incompreensão, perseguição, injustiça, punição entre outras. Como consequência destes sofrimentos experimenta sentimentos de mágoa, raiva, medo, tristeza, orgulho, revolta, culpa, intolerância, desilusão, incapacidade, menos-valia, solidão, desânimo, desesperança e outros que acabam obscurecendo o contato com a sua Essência Divina.

A Alma, então, marcada e condicionada por estas experiências, adquire um ego, uma personalidade que esquece que é um Ser divino. Ao perder a sua identidade divina, perde, também, a consciência de que as dores e o sentimento de vazio que ela vivencia nada mais são do que o reflexo da dor da separação de sua Essência Divina.

Identificada com a dualidade, a personalidade passa o maior número de suas encarnações tentando aplacar a dor e o vazio existencial através de muitas experiências que apenas lhe proporcionam a ilusória e falsa sensação de amor e de unidade, porém não conseguem preencher o seu vazio existencial.

Fazem parte destas experiências: vivenciar o poder material, o dinheiro e as conquistas materiais, vivenciar as satisfações dos sentidos através do sexo, da comida, da apreciação do belo e dos outros prazeres dos sentidos, vivenciar o seu poder pessoal sobre outras personalidades, assim como se sobressair entre elas, se esforçando em ser a melhor em determinadas atividades, tendo um corpo físico mais bonito ou realizando determinados feitos objetivando obter o reconhecimento, a aprovação e a admiração destas outras personalidades, vivenciar a conquista do amor de uma determinada personalidade e, também, passar por diversos tipos de cultos a diferentes deuses, nas mais variadas religiões buscando a aprovação e o amor do divino, entre outras.

Todas estas experiências são consideradas importantes pela personalidade, pois ilusoriamente ela acredita que a sua autoestima, o seu valor pessoal e que o preenchimento do vazio existencial dependem da aprovação e do reconhecimento externos.

O despertar espiritual

Depois de muitas encarnações tentando, sem êxito, preencher o vazio existencial, a personalidade chega a um completo estado de exaustão decorrente da quantidade de sofrimentos aos quais se submeteu. Exaurida, lentamente, começa a se abrir e entrar em contato com a amorosa energia que vem de sua Essência Divina. No início sente-a muito suave e em curtos espaços de tempo. Este contato possibilita vislumbres e percepções que, mesmo que efêmeros, permitem que ela reconheça, aos poucos, a existência de sua natureza espiritual. Percebe que esta energia promove nela uma satisfação e uma alegria que até então nenhuma das experiências vividas havia proporcionado.

Lentamente, a personalidade vai despertando do sono profundo da ilusão que a dualidade oferece e compreende que a felicidade e a satisfação interior não poderão ser encontrados fora de si mesma. Percebe que todo o dinheiro do mundo, o amor de todas as pessoas ou de uma determinada pessoa, a fama, o reconhecimento e a admiração das outras pessoas, a satisfação de todos os prazeres físicos nunca poderão aliviar satisfatoriamente a dor e a sensação de vazio consequentes da separação de sua Essência Divina, nem proporcionar a ela a verdadeira felicidade.

Começa, então, um processo no qual a personalidade começa a treinar o desapego gradual das suas tendências, dos seus padrões de reação, de suas crenças limitantes e dos sofrimentos adquiridos pelas experiências passadas, ao mesmo tempo em que oferece mais espaço para que a sua natureza divina possa se manifestar através dela.

Quanto mais a personalidade se desapega da identificação com o externo e vai obtendo maior maestria sobre suas tendências, com maior intensidade o seu Modelo Divino Original de Perfeição pode ser ancorado através dela. Quanto mais ela se idêntica com este Modelo, mais ela perde a identificação com a ilusão da dualidade e com maior facilidade consegue transcendê-la.

A iluminação espiritual

Depois de uma longa jornada, pouco a pouco, a personalidade consegue reencontrar, finalmente, a tão buscada paz interior, assim como a sua identidade espiritual, a percepção de uma consciência cósmica e universal, o sentido de unidade e de totalidade que permitem a ela perceber Deus em si mesma, em todos os seres, na natureza e em todos os eventos.

O sentido de sua existência se renova, ela se permite entregar-se a sua Verdadeira Essência e se colocar a serviço do divino e da humanidade expandindo e compartilhando com os outros seres o amor e a compaixão, que são os constituintes básicos da sua natureza.

Neste momento a personalidade chega ao ápice do seu desenvolvimento espiritual num corpo físico humano. Conseguiu obter os aprendizados contidos nos desafios que enfrentou em cada uma de suas encarnações, e, agora, consegue expressar o amor através da realidade limitada pela dualidade e transcende-la. Adquire maestria sobre as diferentes dimensões que fazem parte do planeta Terra. Este momento é chamado de Iluminação, quando a personalidade se rende ao seu Eu Divino e torna-se Mestre Ascencionado.

Desta maneira, a parte espiritual que um dia se individualizou ao se separar da Essência Divina tornando-se humana, passa por todo este processo para que no final torne-se, novamente, o Deus que é, obtendo o do título de “Mestre” em criar novas realidades ancoradas no amor, no poder e na sabedoria divina nas dimensões do Planeta Terra.
Consciente ou não, cada ser humano que hoje habita o planeta Terra se encontra, aqui, fazendo o seu “mestrado”, passando pelos desafios que este processo de aprendizagem oferece.

O espaço entre as encarnações – a avaliação

O processo de aprendizado que a Alma se submete durante a jornada composta por muitas encarnações se desenvolve através de erros e acertos.

Toda vez que a Alma deixa o corpo físico, após uma encarnação, ela é conduzida, conforme o seu grau de consciência, para uma dimensão espiritual cujas frequências de vibração são mais aceleradas que as frequências que ela experimenta enquanto está ancorada no corpo físico.

Neste plano espiritual superior, num primeiro momento, passa por um processo de transição e adaptação. Se ela deixou o corpo físico com dores físicas ou emocionais ela necessita recuperar-se destes sofrimentos. Nesta fase, também, é possível que ela reencontre familiares e pessoas amigas que chegaram a este plano espiritual antes dela.
Após o processo de adaptação ela encontra seres que vivem nestas dimensões que são considerados orientadores espirituais. É comum termos um Orientador Espiritual específico, um ser que já passou pelas experiências humanas e adquiriu a maestria sobre as dimensões do planeta Terra, que nos orienta durante toda a jornada de encarnações ou algumas vezes podemos ter a orientação de mais de um destes seres.

Neste encontro com o seu Orientador a Alma tem consciência do projeto de encarnação que elaborou com o auxílio dele, antes de sua anterior encarnação. Nesta fase eles analisam o projeto da encarnação anterior, a Alma relembra o seu desenvolvimento durante a última encarnação e juntos analisam e avaliam o quanto dos conteúdos deste projeto ela conseguiu obter aprendizagem. Com base nestes discernimentos, juntos, elaboram um novo projeto para uma próxima encarnação.

Tendo como base este novo projeto, a Alma e seu Orientador, irão escolher o sexo que ela terá na próxima encarnação, a etnia, os pais, irmãos, as pessoas que ela necessitará encontrar, o lugar no mundo onde ela irá encarnar, todas as condições, facilidades e dificuldades que ela necessitará para poder obter a compreensão e a superação dos aprendizados presentes nos novos desafios que ela irá enfrentar.

Aprendendo através dos erros.

O aprendizado sobre o poder material, o poder pessoal, a busca pela satisfação dos sentidos, pelo reconhecimento, admiração e aprovação das outras pessoas, a conquista do amor de uma determinada pessoa e todas as outras experiências que a Alma vivencia só é compreendido e sedimentado em seu ser através do discernimento sobre os erros e enganos obtidos através das experiências.

O que somos hoje é o nosso melhor. Se na atual encarnação não nos sentimos confortáveis, por exemplo, com a ideia de tirar a vida de outras pessoas ou de nos apropriamos indevidamente daquilo que não nos pertence é porque já praticamos estes atos e, também, já nos sentimos vítimas deles em encarnações anteriores. É desta maneira que se desenvolve a nossa evolução espiritual. Sempre que nós sentimos desconforto diante um pensamento que envolva uma possível atitude que vá de encontro com a nossa ética pessoal, é porque ali existe um aprendizado que já está sedimentado em nossa Alma.

Karma e aprendizado

O aprendizado nas dimensões do planeta Terra está submetido à Lei do Karma, um exemplo especial da lei de causa e efeito, segundo a qual todas as nossas ações de corpo, fala, pensamentos e sentimentos são causas e todas as nossas experiências são os seus efeitos.

Em sânscrito, a palavra karma pode significar “ação”, assim como “ato deliberado”. O nosso livre arbítrio está submetido à Lei do karma. Como a nossa Alma aprende através das experiências e de seus erros, a Lei do Karma propicia este aprendizado.

Por exemplo: numa encarnação anterior uma pessoa que estava aprendendo sobre o poder pessoal e tolerância acaba por perseguir e humilhar uma pessoa ou um grupo de pessoas que apresentava uma raça, uma cultura ou uma maneira de ser diferente da dela. Numa encarnação posterior ela poderá vivenciar este mesmo tipo de perseguição e humilhação para que possa aprender sobre a tolerância entre as diferenças. Porém, nesta encarnação onde vivenciou a humilhação, ela poderá ficar marcada por crenças e sentimentos que comprometam a sua autoestima, fazendo-a acreditar que é inferior com relação às outras pessoas. Então, para se desfazer desta crença equivocada ela poderá necessitar de outra ou outras encarnações.

Podemos dizer que planeta Terra é um “grande terreno fértil” e o que plantarmos nele germinará. As sementes que plantamos no passado permanecem em estado dormente até que as condições necessárias para que elas germinem aconteçam. Em alguns casos, isso pode acontecer na mesma encarnação ou muitas vidas após a semente ter sido plantada.

Desta maneira os sofrimentos e as limitações que vivenciamos são criações consequentes de nossas próprias ações que nos permitem obter um aprendizado e não uma punição cósmica ou divina.

É interessante ressaltar que este ”grande terreno fértil” germina, também, todas nossas ações e atitudes positivas, assim como sentimentos e pensamentos bons, ou seja, que beneficiem outras pessoas e a nós mesmos.”

Jorge Salum

FONTE: ERA DOURADA
TEMPLO DO SOL
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